segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A favor das praxes acadêmicas!

Como estudante universitária que fui, hoje vou falar um pouco sobre o tema que anda a ser debatido em todos os canais televisivos, redes sociais, cafés, universidades... As praxes!
Quando entrei na faculdade tive que sair de casa dos meus pais pela primeira vez. Mudei-me de uma cidade bem no centro de Portugal para Lisboa. Muito embora, a minha cidade natal não seja uma cidade muito pequena, quando comparada com a dimensão de Lisboa torna-se. Vim sozinha. Passei a viver com mais uma rapariga, completamente diferente de mim, com rotinas completamente diferentes. Deixei de ter aquele apoio diário dos meus pais e aquela protecção extrema que eles me davam. Como eu, milhares de estudantes passam por esta mudança anualmente.

Com a mudança de cidade e a entrada na faculdade vêm imensas expectativas ao mesmo tempo que vão aparecendo certos medos. Expectativas de uma possível mudança de capítulo, que para quem teve um secundário mais solitário e calmo é muito importante conseguir que a faculdade lhe traga mais animação, mais vivências e mais experiências. Espera-se também que a faculdade seja a rampa de lançamento para o sucesso profissional. E a vontade de começar uma vida independente é enorme. Mas por outro lados vem os medos, talvez receios. Medo de não conseguir ter sucesso na faculdade, medo de não se conseguir arranjar colegas, medo de passar os anos académicos sem se quer os aproveitar, de uma forma solitária.
Lembro-me perfeitamente de estar nervosa quando comecei a faculdade, de sentir receio do que seriam as famosas Praxes, do que seria ir para um local cheio de desconhecidos em que a primeira impressão iria causar algum impacto. E lembro-me do momento em que entrei no primeiro dia em que imediatamente um rapaz vestido com o traje académico foi ter comigo a perguntar de onde eu era, o meu curso, se conhecia mais caloiros e a levar-me para perto de um grupo de amigos dele e mais tarde para o grupo dos caloiros. Naquele momento senti "Ok, isto não vai ser assim tão dífiicil!". E esse mesmo rapaz tornou-se o meu padrinho académico. Não só foi um companheiro de copos durante a minha estadia na faculdade, como um companheiro nos momentos mais difíceis, um colega de estudo, um amigo!
Fui para o meio de todos os caloiros e aí começaram os tais "gritos". Em que nós caloiros teríamos que repetir tudo o que eles diziam. Durante uma semana e meia participei em jogos, cantorias, conversas à toa, almoços, jantares... Conheci imensa gente, gente essa que me ajudaram a não me sentir sozinha, a não sentir falta de nada. A sentir-me parte de toda uma entidade académica, que me orgulho imenso de um dia ter feito parte. 
Se houve certas actividades que não achei piada? Claro que sim, claro que houve uma ou outra actividade que não me apetecia de todo fazer. Claro que houve uma ou outra personagem (entenda-se por personagem, veteranos que exageravam na dose do respeito a ter por eles). Mas se isso me afectou? Se me senti rebaixada? Nada! As praxes são uma tradição académica que tem como objectivo número 1 a integração de todos os novos estudantes. Que pretende criar uma ligação à faculdade e a todos os elementos que fazem parte dela (estudantes, funcionários e professores), uma vontade de vestir o traje, de viver a vida académica e aproveitá-la ao máximo.
Estive na minha licenciatura perto de três anos e meio. Todos os anos fiz parte desta tradição. No primeiro fui caloira, a atenção estava virada para mim e fui apoiada em tudo o que precisei. Diverti-me imenso com os veteranos e com os meus colegas de praxe. Nos anos seguintes fui eu quem deu esse apoio, fui eu que ajudei novos colegas a fazerem-se sentir parte de algo, parte de uma grande instituição académica!

Quem associa as praxes ao "espírito bovino da obediência", simplesmente não sabe do que fala! Claro que há certas atitudes como a de chamar nomes mais agressivos e passar a imagem de que os veteranos tem mais valor e mais importância dentro da "hierarquia" académica, que não são 100% corretas. Mas isso faz parte, quem sabe o que é o verdadeiro espírito académico e quem sabe realmente a intenção das praxes, sabe que o que se diz não significa rigorosamente nada, não tem intenção de ridicularizar ninguém. Apenas faz parte de toda uma tradição, de uma tradição que deve ser mantida. Abolir as praxes académicas é abolir toda uma experiência única de vida, todo um percurso que marca a vida de cada um. 
As praxes ficaram marcadas para sempre na minha vida, como um novo começo! Sem dúvida que fiquei com amigos para toda a vida!


1 comentário:

  1. Vi no teu texto, tudo o que eu também senti e vivi! Continua a escrever...

    ResponderEliminar